segunda-feira, 23 de abril de 2012

IMPROVISO EM PEQUIM - Allen Ginsberg






Escrevo poesia porque a palavra inglesa Inspiração vem do Espírito Latino,
respiração, e eu quero respirar livremente.
Escrevo poesia porque Walt Whitman deu ao mundo permissão para falar
com sinceridade.
Escrevo poesia porque Walt Whitman abriu o verso-linha para que a
respiração desobstruída passasse.
Escrevo poesia porque Ezra Pound viu uma torre de marfim, apostou num
cavalo errado, deu permissão aos poetas para escreverem em vernáculo falado.
Escrevo poesia porque Pound mostrou aos jovens poetas do acidente as imagens
escritas da poesia chinesa.
Escrevo poesia porque W. C. Williams vivendo em Rutherford escreveu em
dialeto de Nova Jersey "pontapeio-te o olho", perguntando como medir
no pentâmetro jâmbico.
Escrevo poesia porque o meu pai era poeta e a minha mãe da Rússia falava
comunista, tendo morrido numa casa louca.
Escrevo poesia porque o meu jovem amigo Gary Snyder sentou-se para ver
os seus pensamentos como parte do mundo fenomenal exterior
assemelhando-se este a uma mesa de conferência em 1984.
Escrevo poesia porque sofro, nasço para morrer, de problemas renais e pressão
alta, como todas as pessoas que sofrem.
Escrevo poesia porque sofro com a confusão de não saber o que as outras
pessoas pensam.
Escrevo porque a poesia pode revelar os meu pensamentos, curar a minha
paranóia e a paranóia de outras pessoas.
Escrevo poesia porque a minha mente vagueia por assuntos como sexo, política
e meditação Budha Dharma.
Escrevo poesia para tornar mais nítidas as imagens da minha mente.
Escrevo poesia porque levei os Quatro Votos do Bodhisattva: as conscientes
criaturas que se libertam e que não possuem sombra no universo,
a minha ignorância gananciosa a passar pelo infinito, as situações em que me
encontro e que são incontáveis quando o céu está bem, quando acordados
os caminhos da mente.
Escrevo poesia porque esta manhã acordei a tremer de medo daquilo que
poderia dizer na China.
Escrevo poesia porque os poetas russos Maiakovski & Yesenin
cometeram suicídio e alguém precisa de lhes falar.
Escrevo poesia porque o meu pai recitando o poeta inglês Shelley e o
poeta americano Vachel Lindsay deu o exemplo em voz alta – respiração
inspirada no grande vento.
Escrevo poesia porque escrever sobre questões sexuais era censura
nos Estados Unidos.
Escrevo poesia porque os milionários dos lados leste e oeste andam
em limusinas Rolls-Royce e as pessoas pobres não têm dinheiro para
consultarem o dentista.
Escrevo poesia porque meus genes e cromossomas se apaixonam por
rapazes e não por raparigas.
Escrevo poesia porque não tenho alguma responsabilidade dogmática
um dia depois do outro.
Escrevo poesia porque quero ficar sozinho e ao mesmo tempo
quero falar com as pessoas.
Escrevo poesia para responder a Whitman, a pessoas novas daqui por
dez anos, falar com velhos tios e tias ainda vivendo próximos de
Newark, Nova Jersey.
Escrevo poesia porque ouvi os "blues" dos negros na rádio em 1939,
Leadbely & Ma Rainey.
Escrevo poesia inspirado pelas jovens e alegres canções dos
Beatles envelhecidas.
Escrevo poesia porque Chuang-Tzu não sabia dizer se era uma borboleta
ou um homem, Lao-Tzi dizia que a água corre em declive, Confúcio dizia
"honra os mais velhos", e eu queria honrar o Whitman.
Escrevo poesia porque o crescimento em excesso do gado da Mongólia
para os EUA destrói a relva nova e a erosão propicia desertos.
Escrevo poesia usando sapatos de animal.
Escrevo poesia porque a primeira ideia é sempre a melhor.
Escrevo poesia porque nenhuma ideia é compreensível excepto se
manifestada em particular: "Não apenas as ideias, mas as ideias dentro de coisas".
Escrevo poesia porque o Dalai Lama diz: "As coisas são símbolos de si mesmas".
Escrevo poesia porque os títulos dos jornais dizem que há um buraco negro
no centro da nossa galáxia e somos livres para observar.
Escrevo poesia porque da Primeira Guerra Mundial, da Segunda
Guerra Mundial, da bomba atómica e da Terceira Guerra
Mundial (se a quisermos), delas não preciso.
Escrevo poesia porque o meu primeiro poema "Uivo", não pensado
para ser publicado, foi perseguido pela polícia.
Escrevo poesia porque o meu segundo poema "Kaddish" homenageava
o paranirvana da minha mãe num hospital psiquiátrico.
Escrevo poesia porque Hitler matou seis milhões de judeus e eu sou judeu.
Escrevo poesia porque Moscovo disse que Estaline mandou exilar 20 milhões
de judeus e intelectuais para a Sibéria e 15 milhões nunca mais voltaram ao
Stray Dog Café, em São Petersburgo.
Escrevo poesia porque eu canto quando estou só.
Escrevo poesia porque Walt Whitman disse: "sou uma contradição em mim?
Tudo bem então eu contradito-me (sou largo, contenho multidões)".
Escrevo poesia porque a minha mente se contradiz, um minuto em Nova Iorque,
no minuto seguinte nos Alpes.
Escrevo poesia porque minha cabeça prende 10.000 pensamentos.
Escrevo poesia porque sem razão não há porquê.
Escrevo poesia porque é a melhor maneira de usar a cabeça dizendo tudo.
Por seis minutos ou por uma vida inteira.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

UMBANDERIA - PÓ DE SER???







Reflexão Gestacional sobre Pó de Ser Emoriô ( Umbanderia),


O artista, o artífice, o artesão, fomentador, pesquisador , executor de uma ideia artística, destina-se ao belo, a provocar o belo. A obra surge da sensibilidade do artista, o artista surge após ter sua obra apreciada ao público, devorada, ruminada, experimentada.
Toda expressão artística deve ser vivenciada, pois como disse o Grandioso Gênio Sérgio Sampaio: “Um livro de poesia na gaveta não adianta nada, lugar de poesia é na calçada...”
O século vinte e um inaugurou um tempo futuro sem presente, onde estamos em extremo contato com o passado, voltados para o “de mais recente”, num fluxo constante de atualizações, onde meios são os fins, tendo na arte o congelamento, a beleza atemporal, sensorial, intelectual e instintiva; passiva e ativa a dialogar com escolas de todas épocas, técnicas, espíritos, estados de espírito, fim em si mesmo, tendo todos enquanto expressões da obra de arte: a obra, o artista e o público.
O dinamismo tecnológico e sua abrangência, a acessibilidade de inúmeras interfaces linguísticas, é eficiente mecanismo de produção e disseminação de conceitos, elementos, produtos, mas no caso da arte, o esperado é atingir um lugar onde não se possa imaginar, e a maneira como os diversos elementos disponíveis são utilizados ou não utilizados, conhecidos ou não conhecidos, incidem cada vez mais no resultado dessa ação.
A Arte enquanto campo de conhecimento move todas as outras áreas no seu acontecimento, no intercâmbio de ideias, regiões, perspectivas e atualizações, alcançando o viés necessário ao artista e ampliador de novas culturas, de toda cultura.

UMBANDERIA” é o parto por inteiro, a fonética, a estética, o movimento e a sonoridade. A promoção desse encontro, é o momento o qual elege-se uma estréia, um cair do pé pelo fruto maduro (ou não, como diria caetano), ex-pôr, ex-porte, dar-se à vida, à distinção, a procura da batida perfeita, o fluxo do coração, é a busca incessante pelo degrau dos gênios da sensibilidade e beleza, a hora de estar à prova. Os Tambores de Aruanda celebram sem medo, do cume da montanha o leão ruge, o clarão dos raios, a beleza das cachoeiras a força das marés, o fogo e sua transformação:
Quem não guenta com mandinga não carrega patuá...”        


Emmanuel "7 Linhas"

16 de março de 2011