As pessoas simples, da vida, não estão inclusas na sociedade do consumo e da imagem. Não usam Prozac nem plástica; não buscam a felicidade intermitente e a juventude eterna; não calam suas vozes internas e expõem seus mais íntimos desejos e fraquezas.
Vivem sem descartar pessoas, simplesmente, como um aparelho de tv. Choram o que precisa ser chorado, riem de si mesmos, falam sem a lança nas palavras e sonham... como se cada sonho lhe oferecesse a possibilidade de existir mais de uma realidade.
Estar out-side virou sinônimo de invisibilidade, principalmente quando não somos “merecedores” dos cartões de crédito, das milhagens... tudo que nos leva direto ao objeto de desejo forjado pelo triângulo capital-mercado-propaganda.
Cabe aos meios de comunicação criar necessidades, já determinadas por um grupo invisível, particular e limitado - formam a seita do capital, e lançar uma cortina de fumaça, através da espetacularização da vida.
A democracia é ficção, sendo o essencial ter e construir sem critério, bastando ser “digno”, “escolhido”, exercitando baixa criatividade e alta voracidade frente ao que determina o marketing.
Hoje temos o isolamento dentro de manadas, ou seja, mentes e corpos feito ilhas, porém buscando a visibilidade, ser imagem aos olhos do “outro”.
Um comportamento de exacerbação do narcisismo, declínio de valores e necessidade de eternização, mesmo sem qualquer fim justo. Apenas a continuidade de um espetáculo que duvido ser da vida.
Maria Regina Alves
- É da roda, da ciranda, da corda, do boi, da dança.
- Que samba, criança, que pula, que gira, que ri.
-
- Menino criado descalço,
- De dedo esfolado, de unha encravada,
- Mão suja de terra, sorriso com todos
- os dentes (os que tem, e os que virão.).
-
- Um bolso que mais leva brinquedo
- que lápis.
- Uma bolsa com todos os grandes inventos.
- Pião, Bola, Gibi, Balas... Balas... Balas...
- Catava café, pra ajudar...
- Ganhava um trocado, final de semana.
- Balas... Balas... Balas...
-
- Vendia manguitas do quintal.
- Comprou colete pro futebol.
- Era o reserva, que foi pra final,
- entrou no finzinho...
- Que foi pros pênaltis.
- Bateu de bico, fez GOOOOOL!!!!!!
- "UFA!"
- Não foi dessa vez.
- Dedão latejou, inchou, até hoje dói.
- Depois da final já foi titular.
- Viajava pouco. Gostava das moças.
- E nunca entendia por que "só amigos".
-
- Melhores amigos... São muitos!
- Irmãos, daqueles que só se conta,
- e só se percebe quando é pra
- saber perceber.
- Aos montes, e ama todos, beija,
- abraça, morde, leva pra casa.
-
- Poucas vezes se encontram.
- Mesmo assim estão juntos, ali,
- em algum lugar abstrato,
- subjetivo, in-concreto, porém, real!
-
- Inimigo?
- Um!
- E ele um dia cairá.
- Enquanto o dia não chega, estudemos,
- Mas ele um dia cairá.
-
- Estudar... Entender...
- Tanta gente contribui pra isso.
- Tanta gente que nem tem isso.
- Tanta gente pra ser ouvida.
- Tanta tarefa pra ser cumprida.
- Tanta gente num só umbigo.
- "Tanta mente", tanta mentira.
- Tanto sorriso amarelo.
- Tanto medo de amarelar.
- Tantos "tantos" aqui dentro.
- No entanto, tanta gente de fora.
-
- Gente da roda, da ciranda, da corda, do boi, da dança.
- Que sambou, criançou, que pulou, que girou, que sorriu.
-
- Que também foi criado descalço, de dedo esfolado,
- unha encravada, mãos sujas de terra, sorrisos, sorrisos,
- sorrisos...
-
- De bolsos lotados de bolinhas, catavam café, catavam vento.
Cadê?
- Quem foi pra final levou o troféu.
- Tanto, tanto, tanto.
- Tanta gente lá fora.
- Tanta potencia.
- Tanto universo desconhecido.
- Tanta gente interrompida.
- Tanta gente interrompida.
- Tanta gente...
Dieymes Pechincha