domingo, 23 de dezembro de 2018

INFERNO









INFERNO

Nas profundezas do inferno em que ergueu-se minha solidão, mastigo com os dentes podres de minha boca aquilo que ainda resta de minha alma

A pouca poesia que habita em mim alimenta-se, tal qual um verme em minhas entranhas, de todas as dores que me permeiam as lembranças

Lúgubre, tornei-me o que mais temia: Um pobre diabo inflamado pelo rancor

Tecem meus passos tão somente o sedutor atalho para o abismo

Não há em mim nada mais que me interesse

Incendiarei minha casa antes de partir e através das chamas flamejantes observarei queimar tudo aquilo que nunca foi meu

Arrancarei minha pele para afogar-me no álcool

Furarei meus olhos antes que nasça o sol

Com meus pés descalços, por entre brasas, arrumarei minha cama de deitar

Não doarei meu ódio gratuitamente e nem gastarei tempo demais com pequenas vinganças

Toda depressão, toda tristeza, todo luto reúnem-se em mim

Arrancarei meu coração com as próprias mãos e ofertarei aos cachorros de rua

Tal qual o ladrão que visita sempre à madrugada, me farei presente por entre pesadelos

Um calafrio, um arrepio invadirá teu corpo toda vez que tua mente formular-lhe minha imagem

Nas margens dos círculos da miséria erguerei um templo de dor, onde tão somente assassinos de sonhos a entrada será permitida

Matarei meus filhos no parto

Enviarei meus pais ao exílio

Não terei pátria, muito menos destino

A fome será minha companheira

A morte deixará de existir

Todos os meus dias serão noite

E nada que você venha a fazer poderá me impedir

Estaremos juntos, eu e meu pior inimigo

Pintarei um quadro entre soluços e cólicas

Não canalizarei meu sexo noutra identidade

E assim quando encontrar-me totalmente só, sem referências, sons e ou poesia

É que poderei medir a distância da sua vida e a minha

sábado, 22 de dezembro de 2018

NOITE DE QUINTA




NOITE DE QUINTA

As ruas provincianas, com seus lares provincianos e suas famílias provincianas da pacata Vila Velha, nas noites de quinta-feira, são por demais silenciosas. Há de se sentir um cheiro esquisito a cada esquina, uma mistura de medo, mistério, beleza e morte por entre as escuras ruas da cidade.
Parto na missão de tomar uma cerveja na baixada. Um pálio maltratado, vidro fumê, farol baixo e andando bem devagar me cruza na encruza. Sigo olhando reto, peço licença ao Senhor dos Caminhos, à noite não se pode sair pra perder.

No bairro vizinho, numa rua bem iluminada, uma bela árvore e suas lindas flores amarelas expõe sua beleza à lua, que está já quase cheia. As bandeirinhas da última copa, bem desbastadas, ainda encontram-se penduradas em seu comprimento. Cruzo a avenida, entro num bar em Jardim Colorado, apelidado mui maldosamente como "Bar da Sapatão". Ela e sua companheira atendem de forma simples, mas honesta, alguns apreciadores de "porcarina" se aportam por esse estabelecimento. Compro um maço de gift, acendo um cigarro e vaso fora dali.

Corto Vila Nova até chegar à praça de Santa Mônica Popular, onde encontra-se um grande campo de grama sintética, a praça é ampla, bem frequentada durante o dia, mas com um estranho e pequeno movimento nesta noite de quinta: "Será que mataram alguém?" - logo penso. Em uma das esquinas da praça está o inusitado "Bar Titanic", que carrega este nome, para além de remeter ao famoso navio, pois tal "homenagem" associa-se a uma característica arquitetônica do prédio onde se encontra: A lateral do bar está literalmente afundando!. Estaciono em uma das mesas, do lado de fora sempre, o garçom é um cara gente boa, interado, a música é boa, rola uma sessão de rock internacional e funk americano dos fins dos 70 / início dos 80. Elogio o som e o garçom me diz que no meio da semana existe essa possibilidade, pois, segundo ele, nos fins de semana é o sertanejo bregão que comanda. Manifestamos o acordo de que a trilha sonora de quinta é uma tortura chinesa a menos, fico pensando nos pobres vendedores de lojas de eletrodomésticos, deveriam receber insalubridade.

Virando a esquina, meu parceiro Tiaguim com sua bike velha, o interpelo, e ele me diz que estava indo pra casa. O convido a sentar e dividir uma breja, meu plano de beber sozinho foi quebrado, ele aceita, encosta a bike e senta. Tiaguim é um cara bacana, sempre pra cima, um bom músico que se sustenta com seu artesanato nas praças e feiras - nada mais capixaba!. A base do seu artesanato consiste em uma bicicletinha feita com cabos reciclados, bastante apreciada pelos turistas e frequentadores dos espaços em geral, além de ser um bonito porta-retratos. Geralmente quando vou expor meu acervo de livros usados na praça de Gaivotas Tiago está por lá, aliás é um ponto que ele conquistou na marra, já há algum tempo. Nem sempre você é muito querido trabalhando nas ruas, principalmente em se tratando de dois, pretos como nós.

A conversa vai se dando por trivialidades do dia-a-dia, Tiago me conta que expôs nesta quinta na Praia da Costa, o calçadão dos bacanas da cidade e onde o povo em geral vai dar um rolê maneiro com a família nas noites do verão canela verde. O movimento estava fraco, ele diz, e conta também que na quarta teria sido melhor, parece que por causa da nobre visita do papai noel - "tradição esquisita essa nossa" - eu penso. 

Logo na sequência, como todo bar de perifa, as mesas começam a dialogar entre si. Um maluco com uma cara esquisita, senta bem próximo a nós, tem cara de cana: novo, camisa pólo, calça. Acho esquisito. Depois interagindo descubro que na verdade é o contrário: É bandido. Inevitavelmente a conversa vai parar em política. O maluco esquisito é Bolsonaro, eu sou eu, Tiago não é de se aprofundar, mas sua tendência é de esquerda, o garçom bem antenado não é de fazer concessões, é perspicaz e bem informado. No decorrer da discussão, lá da ponta direita, em uma mesa com duas loiras sentadas tomando uma breja, uma delas grita, aliás a mais gata: "Eu adoraria ir pra Cuba!". Eu penso: "Ufa, minha noite está salva!". 

A conversa segue animada, agora eu diria ainda mais. O bolsominion se cala, percebeu que além de desinformado é minoria. Fora do campo virtual eles costumam abaixar a bola já no terceiro corte. A mina é bacana, gente boa, rua e filiada ao PC do B, eu quase me apaixono. Sua amiga é um pouco mais velha, pela casa dos 40, porém também bonita e gente boa, já de cara nos informa que é lésbica. Vou ao banheiro, aliás a mijada mais arriscada da minha vida, vai que essa porra desaba? Quando retorno as loiras convidam a mim, a Tiago e a um outro parceiro que tinha colado ali com a gente para juntarmos as mesas. Elas são realmente bacanas, butequeiras, a conversa fica cruzada, a loira mais gata diz que não é feminista, pergunto sobre Manuela D'Ávila, ela diz que a admira muito e começa a elogiar vários aspectos da personalidade e da luta política de Manuela, de como ela concilia bem sua luta com a maternidade, o que para mim me soa bastante feminista da parte dela. Passo a interagir mais com a lésbica, a loira gata comunista fala bastante, em alguns momentos um pouco autoritária, nada grave, dou um corte de leve. O dono do bar resolve nos expulsar e resolvemos caçar outro buteco. Os malucos da mesa ao lado, que tentavam também interagir com as loiras, porém mais na conversa fiada com vistas à maldade, se levantam e resolvem ir com a gente. Eles estão de carro, convidam as loiras, elas resolvem ir a pé com a gente, ganharam meu respeito. Mas no caminho pro bar uma cena meio louca por parte delas: As minas ao começar a caminhar com a gente passam a xingar de longe o bolsominion. Parece que o cara tentou roubar o celular de uma delas, porém ela conseguiu recuperar o aparelho que tinha esquecido no carro dele quando saíram com amigos em comum. Tiago vai à frente de bike pra ver se um determinado buteco está aberto, o parceiro que está com a gente fica aguardando com a loira, eu e sua amiga lésbica andamos em direção a Tiago - começo a perceber que a lésbica não é tão lésbica assim. Bar fechado, a gente segue para o famoso "Bar Escritório", indicação da loira gata mais nova.
No caminho, vejam só que maravilha, uma dor de barriga filha da puta desata de uma hora pra outra e a porra do bar tá muito distante. Dou um quebra de asa na galera e encontro um terreno baldio com uma bananeira, estou salvo!

Chegando no bar, vou ao banheiro lavar as mãos e na volta percebo que apesar das minas serem maneiras, já tinha gasto uma grana boa no titanic e a cerveja no escritório não é muito barata não. Enquanto no Titanic o litrão de brahma é 8,50 no escritório uma verdinha é 12 conto 600 ml, bar de playba, e aliás só tinha playba no bar, de vez em quando alguns marombeiros resolvem se beijar por lá. Tiaguim deu um migué e saiu fora, nem deu idéia as loiras, pediu pra eu deixar um abraço. Eu apesar da conversa bacana das minas, não tava a fim de sentar no bar dos playba com os parceiros que foram de carro, que estavam é na fissura pra cima das minas. E eu ali com grana curta no meio do rolê com essa galera, pois como diz Mestre Eduardão, malandragem fonsequiana da Mesquita Neto no Santão: "Homem duro fede e reza pra chover!!". Declaro as minas a minha falência, elas pedem que eu fique, sugerem segurar a bronca: "Um dia é você no outro sou eu" - mal sabem elas que todo dia sou sempre eu. Eu também não estava na vibe de entrar nessa bola dividida, agradeço e meto o pé na caminhada fresca pela madrugada.

Mas não saio com o rabo entre as pernas não, a loira gata me deu seu número, pediu pra eu ligar pra marcarmos outro rolê. Fora também que pelo início da conversa no bar lá atrás os caras vão ficar é no zero a zero, as minas são firmeza, o caô ali tem que ser forte. Será que é meu número?

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

CARTA AOS NASCIDOS APÓS 1990


CARTA AOS NASCIDOS APÓS 1990

Em primeiro lugar é indescritível o estado de euforia geral em relação a copa de 1994, pra minha geração não há comparativos na história.

Sou nascido na década de 80, mais precisamente em junho de 1980, geminiano e macaco no horóscopo chinês.

O que me move escrever esta carta é talvez um sentimento de apreensão quanto ao futuro, como também uma esperança de que talvez a minha reflexão, relativa às minhas escolhas pessoais no transcorrer da vida, possa inspirar-lhes quanto as escolhas que tomarão em suas vidas nos próximos anos.

O processo de maturação para o pobre médio, que ainda possui família e tem uma pequena e frágil estrutura, prolongou-se com o passar das gerações.

Observo que é cada vez mais comum ver a não hesitação em sair de perto do ninho. Mas lhes afirmo que quanto mais apostarem em sua autonomia, melhor o futuro se desenhará a sua frente.

Porém autonomia não significa tapar os ouvidos para aqueles que te amam (quando amam) e sim explorar a sua intuição, não desqualificar o acaso, atentar-se às decisões que possam vir a influenciar toda uma vida, como a vida de outras pessoas também que possam vir a depender de você.

Se eu refletisse melhor sobre estes termos não teria permitido ser jubilado em duas universidades públicas, aliás, não teria escolhido uma graduação em filosofia - pobreza material e estudo em filosofia não combinam, pode levar fé nisso!!

Penso que também teria lido mais, apesar de ser um leitor mediano pra ruim, lendo muito mais que a média brasileira, que está muito abaixo da média mundial, aliás, brasileiro não gosta de livros, foi doutrinado a odiá-los, pois senão a biblioteca não seria lugar de castigo.

Leia, leia tudo que puder, mas leia principalmente os clássicos. Se você pensar que lendo um clássico de Jack London por exemplo, ou Machado de Assis, você estará permitindo que a voz de um gênio, que viveu a mais de um século antes que você, fale aos seus ouvidos.

Ler um clássico não é nada mais que viajar no tempo para conversar com um gênio.

Mas ler requer disciplina, também diria método. Particularmente não leio um livro que não me agrada. 

Caso tenha dificuldades para tornar a leitura um hábito, leia uma página por dia e vá aumentando gradativamente. Explore os momentos de folga para o exercício da leitura.

Demorei 23 anos para voltar e reler o Guarani.  Com 15 anos era uma tortura lê-lo, com 38 um orgasmo.

Falando em orgasmo, vivemos em uma sociedade altamente hedonista, egoísta, dissimulada - não tenha dúvidas disso - fale menos e escute mais, observe, tente não hesitar e principalmente guarde as questões mais graves de sua biografia para você.

Um outro detalhe importante: O prazer não o leva à felicidade!

Há 10 anos atrás, exatamente 10 anos atrás, no mês de Dezembro, eu morri. Tudo o que eu era, o que eu acreditava morreu comigo e fui obrigado a renascer, pois parafraseando e ironizando o filósofo alemão, "O que te mata te faz renascer" (7L).

Morremos todas as noites e renascemos ao acordar, mas aquele Dezembro de 2008 minha morte foi mais profunda e me vi dentre a um inferno levado por minha ignorância, ou seja, na assepsia da palavra, o ato de ignorar.

Não ignore a realidade, ela cobra um preço alto pela sua existência, e seja para quem for, um dia o boleto chega, a conta pode ser alta ou mediana, está em suas mãos.

Hoje, necessariamente sinto que morro outra vez. Morrem minha ilusões e definitivamente minha fé e esperança na humanidade. Os raros exemplos que existem são fruto de pessoas iluminadas, mas fogem totalmente à regra - o ser humano é sádico, esquizofrênico e pode tornar-se muito mal para defender seus interesses, e nisso independe quem seja.

Mas morrendo hoje não me encaro em luto, também não me sinto até mais forte ao renascer e sim vivo, talvez pelo fato de que a nossa maior fraqueza se sustente onde alimentamos nossas ilusões.

Mais uma reflexão: Tire o coração da dianteira, alguém vai ferir-lhe gravemente caso mantenha essa perspectiva em sua vida. Viver não é fácil, dói, alegra, engrandece, apequena, derruba, levanta.

É um experimento fantástico, antes que nos chegue o silêncio mineral.

Essa carta é meio que uma despedida de mim mesmo, sem grandes pretensões.

E para encerrar essa carta, que simboliza um afago, um abraço, uma estima para que sejam fortes, pois vocês vão precisar, deixo algumas sugestões de leituras, talvez possam vir a ser úteis num futuro não muito distante.

Sidarta, O Lobo da estepe, Demian, o Jogo das contas de vidro - Herman Hesse

Tudo de José de Alencar e Machado de Assis, mas sobre Alencar sugiro uma atenção especial a O Guarani, Iracema, Ubirajara, Senhora, Lucíola. Já Machado é tudo mesmo, sem qualquer sugestão mais útil que essa.

O chamado da floresta, Paixão pelo socialismo - entre vagões e vagabundos - Jack London

1984, A revolução dos bichos, Admirável Mundo Novo - George Orwell

Assim falou Zaratustra, O Anti-cristo - Nietzche

A idade da razão, A náusea - Sartre

O Mito de Sísifo - Alberto Camus

2001 Uma Odisséia no espaço - Arthur C. Clarke 


Tudo que é sólido se desmancha no ar - Uma aventura na modernidade - Marshall Berman   


Poderia indicar uns filmes e discos também, mas na moral??? Se virem!!!rs


Saludo!

Luíz Emmanuel Pinto

sábado, 15 de dezembro de 2018

MÁGOAS DE AÇO


MÁGOAS DE AÇO
.
É pino, é pedra, é o fim do caminho
A vida é um soco, apanho sozinho
E com caco de vidro me assaltam ao sol
Mas de noite me prendem ao portar pinho sol
.
É veneno no campo, é roubo de madeira
Desmatar, sangrera, gosto de pau-pereira
Madeira de reserva, monocultura na beira
É um esquema profundo, de supremo à empreiteira
.
Quem prende tá roubando, só aumenta a cegueira
Superfatura no pão e ao comprar petroleira
É a chuva sumindo ou transbordando ribeira
Entupindo o bueiro com lixo da rabeira
Sem pé, sem chão, viver não é bobeira
O povo tá nas mãos de ladrões de primeira
.
Tiros cortam o céu, nas paredes, no chão
Meninos de uniforme, guarda-chuva nas mãos
É o fundo do poço, é o fim do caminho
Na presidência o desgosto, cabeça-passarinho
.
Me estrepe, seu prego, perdemos o trem no ponto
De ser país do futuro, agora to sem um conto
É o ladrão ladrando, é o capeta pregando
Não tem luz da manhã pra quem tá se afogando
É emprego sumindo, é o fim da picada
Se matar de cachaça, o melhor na quebrada
.
Moradores sem casa, papelão vira cama
Crack é seu rivoltril, tá na lama, tá na lama
É um salto, é uma ponte, suicídio ou divâ?
É um cacto no palco, tanta beleza vã
São as mágoas de aço abrindo o verão
É matar-se da vida sempre à prestação
.
É um nazi, é um monstro, estuprando a fé
O pobre de direita dando tiro no pé
São as mágoas de aço abrindo o verão
É matar-se da vida sempre à prestação
.
É pino, é pedra, é o fim do caminho
A vida é um soco, apanho sozinho
É um salto, é uma ponte, suicídio ou divâ?
Morte em nosso horizonte, o demônio e seu clã
São as mágoas de aço abrindo o verão
É matar-se da vida sempre à prestação
.
Emmanuel 7Linhas
15.12.18

sábado, 10 de novembro de 2018

VEROSSIMILHANÇA




Verossimilhança
Quando levanta-te e andas
Ainda criança
Não olhas pra trás

Parte como saudade
Vens,
E quando vens invade

Despedi
Despedaça

Os anos como pétalas
A chuva como lágrimas
Do tempo ampulheta
De noite ainda guardo
Teu choro pelas gavetas

Agora crescida
Despida de mim
Se cobre de vida
Meu eu espaçado

Como a poeira nos móveis
A lembrança esculpida
Sou porta-retratos
Suporto
O peso da porta

Rasga-me o peito
Corta meus braços
Sou aço e derreto
Sou fácil descalço
Sapatos sem pés
Percalço

Vê:
Não vejo

Quanto de mim há em ti...

Vagalume...

Divago
À luz

7L

terça-feira, 30 de outubro de 2018

A DEMOCRACIA NA PÓS-VERDADE: APARANDO AS ARESTAS NAS HIPER-BOLHAS!




A DEMOCRACIA NA PÓS-VERDADE: 

APARANDO AS ARESTAS NAS HIPER-BOLHAS!


Para alguns povos, retirar o calçado à porta da entrada da residência demonstra respeito do visitante para aquele com o qual se visita. Para outros povos, indubitavelmente ao adentrar no recinto de sua casa você deve retirar os sapatos e deixar toda a sujeira que trouxe da rua do lado de fora.

No espetáculo democrático, o olhar-se ao espelho é realmente assombroso, pois, nunca um pleito fora tão desgastante, esquizofrênico, estarrecedor e imprevisível quanto o pleito atual de 2018.

Atentar-se simplesmente para os resultados da disputa presidenciável é reduzir drasticamente o quão assustadora e efervescente foram as eleições no Brasil - o que aliás deixou o mundo estarrecido e bastante preocupado, pelo menos por uns 15 segundos, entre um furacão aqui, um tsunami ali, chamando tanta atenção quanto um twíte do Trump.

Ironias à parte, o processo democrático brasileiro realmente chamou a atenção pelo ineditismo da forma com a qual candidatas e candidatos se degladiaram – assim como seus eleitores – em busca do esforço incansável de demonstrar uma ideia, um projeto, um gosto, um ideal. Artistas mundiais mobilizaram suas redes e seus shows (sim mundo, nós vaiamos o Roger Waters e talvez com razão), mobilizamos analistas políticos tanto europeus quanto das grandes redes de comunicação estadunidenses como NYT e Fox, além de termos inspirado a alteração na legislação eleitoral do Chile, com relação à prevenção das famigeradas “fake news” (creio que de tão íntimas não seja nem preciso mais aspas).

Umberto Eco disse certa vez que as redes sociais deram voz aos idiotas. Não sei se ele escreveu isso em sua page fan no facebook ou publicou através do instagram. Theodor W. Adorno, filósofo da Escola de Frankfurt, dizia que a arte deveria ser destinada a uma minoria intelectualizada, uma “elite”, pois o acesso aos pobres criava o risco da massificação, através da indústria cultural. Pois bem, mesmo que os nobres pensadores reivindiquem a análise de forma conservadora, para uma elite de iluminados, neste ano o que prevaleceu foi a enxurrada de zaps, análises políticas, discussões filosóficas, ideológicas, distorções e construções históricas ( o nazismo é de esquerda), que foram criando o pano de fundo para um sem número de brigas tanto virtuais, como no campo da realidade. Com certeza o natal deste ano se tornará um evento mais interessante que simplesmente as piadas cafonas daquele seu tio homofóbico-machista-misógino-racista-politicamente incorreto, inconveniente e principalmente sem graça: Esse ano ou ele apanha, ou realmente vai passar o natal sozinho mandando piadas pelo zap zap. Creio que muitas famílias nunca mais se reunirão novamente, uma grande besteira (ou alívio).


Mas o que de tão diferente nos ocorreu neste pleito que nos difere dos pleitos anteriores entre Hilary x Trump nos E.U.A. e Dilma x Aécio no Brasil? A diferença, segundo nos apontaram os observadores internacionais da OEA – Organizações dos Estados Americanos, diz respeito a enxurrada de notícias falsas ou fake news sobre o eleitorado brasileiro, trazendo uma gigantesca cortina de fumaça sobre o processo eleitoral, já que no pleito dos norte-americanos o fb foi intimado a criar mecanismos para barrar tais notícias, o que porém para o Brasil com o “zap zap” e não o “face” (mania cafona nossa de apelidar coisas escrotas), tais barreiras foram inúteis.

Deve-se levar em consideração que em 1989, no segundo turno entre Lula e Collor a parada foi tão intensa quanto agora, me recordo bem que no auge dos meus 09 anos, acabei quase que saindo na mão com um baixinho atrevido “Collorido” da minha rua (hoje de esquerda, acho que a briga valeu), num pleito que tinha 845 candidatos a presidente no primeiro turno que iam de Mário Covas, Paulo Maluf, Ulisses Guimarães, Leonel Brizola, a Afif, Enéas e o saudoso Marronzinho.

Há de se apontar também o índice de renovação na câmara federal e senado; o crescimento do nanico PSL, até então desconhecido partido político antes do fenômeno Bolsonaro; o efeito Tiririca elegendo Kim, Frota, Janaína; a eleição de Hélio Negão no RJ, que passou de desconhecido para, com o apoio do agora eleito senador no RJ Flávio Bolsonaro, deputado mais votado, superando Marcelo Freixo; o Rio de Janeiro ou Hell de Janeiro aliás, tem uma vocação ou um hábito ou “uma missão” para eleger outsiders, principalmente evangélicos, já que o recém-eleito Governador do Estado, Wilson Witzel, do Partido Social Cristão, disputava a sua primeira eleição e que curiosamente pediu exoneração do cargo de juiz federal para concorrer à vaga, creio que devido as ameaças de morte sofridas no exercício da função. Será?

Há sim, cabe citar que o PSOL deixou de ser uma chapa de DCE e virou um partido político, Ciro abriu um flanco progressista dentre a unanimidade petista, o PSB e o PSDB continuam vivos e bem vivos, além do partido de Temer.

Outro dado importante é que apesar do chamado “mito” ter sido eleito presidente, com direito ao senador recém-derrotado por dois estreantes na política capixaba Magno Malta puxando uma oração junto aos afiliados do Bozo, uma cena deplorável de representação dramática por atores de terceira e com abrangência internacional – quiçá, interplanetária, finalmente um mito caiu nessas eleições: A tal obrigatoriedade do voto. No RJ por exemplo, o número de votos brancos, nulos e abstenções no segundo turno perdem em 100 mil para o número de votos do candidato vencedor – o que tem um amplo significado para as futuras estratégias políticas eleitorais.

Na escalada da onda conservadora que elegeu um meme como seu presidente, um aspecto foi fundamental para a sua ascensão: A consolidação de uma marca através do canal certo de propagação de imagem. Tenho postagens minhas de 2011, já zoando esse milico grotesco.

O Outsider mor, MemeMito, desde a década de 90 é conhecido por ser um político bilíngue – fala português e merda pa carái – o que por increça que parível, no melhor estilo “quanto pior melhor”, nos parece ser uma estratégia que o alavancou até a presidência do país (“Ó vida, ó azar”). O internacionalmente conhecido como Trump Brasileiro, veio comendo pelas beiradas mas sempre dando um jeito de chamar a atenção e como dizem nesse mundo de rédeas sociais “fidelizar” seu público conservador de alto déficit educacional (moral?) e principalmente surfando num neo-populismo antipetista abissal, que aliás, teve uma parcela de contribuição gigantesca com a estratégia suicida, personalista, porém genial do ex-presidente Lula, em trazer o debate para o campo do plebiscito.

Mas o PT foi realmente genial? Talvez você deva estar se questionando. Eu digo que sim, pois o PT sai como o partido que elegeu mais governadores (4 + Renan Filho, um “aliado” ), e é o partido que no geral elegeu o maior número de políticos, 148 no total, sendo o maior número de deputados federais e estaduais eleitos e o terceiro maior número de senadores. No jogo político, vão-se os anéis mas ficam-se os dedos e para o PT, a arriscada estratégia de jogar Haddad de última hora no pleito, quase colou e recolocou o PT enquanto liderança do campo progressista brasileiro, aliás, fato que alguns Ciristas não conseguem compreender, pois o maior partido progressista da América Latina abriria mão de sua hegemonia política e a entregaria nas mãos de outro grupo político, mesmo que alinhado com parte de suas idéias, mas com divergências públicas notórias, o direito de disputar o pleito ao executivo? Lula no aconchego de sua cela em Curitiba, lendo mais livros por semana que grande parte dos brasileiros leram na vida, entra agora em disputa com Mujica e Mandela, só falta o tempo de cadeia. Que a prisão do grande líder populista brasileiro deste século faça com que seu eleitorado reflita acerca do autoritarismo presente também em uma postura pouco agregadora por parte dos progressistas, o qual aliás Bolsonaro em sua campanha esteve mais próximo de Lula do que o próprio Haddad, pois com seu neo-populismo de extrema-direita, sua forma direta e simples de falar com o povo e seu discurso raivoso e manifestações toscas de racismo, machismo e homofobia, nos remetem muito a um Lula sindicalista que gostava de uma cachacinha e que em 2002 resolveu botar um terno pra ganhar a eleição e falar um discurso mais moderado, que o crivou da alcunha de “Lulinha Paz e Amor”, causando ojeriza, e ainda causa, aos intelectuais da época, ao verem num torneiro mecânico a impossibilidade de um líder estadista, mas que convenhamos nunca se pautou numa estratégia de ódio aos pobres para colocar seu nome em destaque.

Bolsonaro junta o que há de pior na política: o discurso de ódio aos pobres atrelado a teologia da prosperidade dos pastores mau-caráter das igrejas evangélicas.

O Filósofo Jürgen Habermas, em sua palestra “A modernidade: Um projeto inacabado” (Setembro de 1980), nos traz à reflexão que o moderno, ou “modernus”, em sua acepção latina, simboliza a distinção de uma era – no caso a romana e pagã - para o advento de uma nova era a partir do século V, onde no cristianismo se representava a vanguarda para o pensamento civilizacional. Porém, para Habermas, o moderno não foi uma cisão completa e sim uma imitação do modo antigo. Somente com o iluminismo é que a ideia de modernidade não significava também o resgate das ideias antigas: ¨A característica de tais obras é o ‘novo’ que há de ultrapassar e tornar-se obsoleto pela novidade do próximo estilo. Contudo, enquanto o que é meramente ‘stylish’ logo vem a sair de moda. Aquilo que é moderno preserva elos velados com o clássico” (HABERMAS, 1980).

Neste pleito exclusivamente, vemos a demonstração de resistência e de disputa pelo discurso entre os campos progressistas, pautando uma ética globalizante, de defesa da diversidade, estado laico e maior racionalização do ethos social em contraste com a tradição – e aí nos remetemos a Habermas novamente no que diz respeito a sua “Teoria da Ação Comunicativa” - pois segundo o filósofo, é por meio da linguagem que as pessoas interagem umas com as outras, como também reproduzem e renovam o saber cultural, orientando tanto a compreensão quanto a forma de estabelecerem-se em sociedade, frente um sistema teórico que não contempla no todo a complexidade da vida prática. Sendo assim, questões como a defesa da propriedade privada, a moralização da política e a luta pelos ideais cristãos de sociedade como a defesa da família, a não ampliação a medidas contraceptivas no que se refere ao aborto e a políticas que alterem a percepção acerca do uso de drogas recreativas, transformando-as em uma questão de saúde pública e não como aspectos meramente criminais, assim como  opção de foro íntimo e a reserva de mercado para somente algumas modalidades de drogas, discursos estes de uma tradição arcaica que nos remete aos anos 60, e talvez por isso uma identificação tão forte com os valores de 64, levando pelo ralo a defesa do direito à diversidade política – e vale reiterar o incorreto termo “minorias” para um grupo majoritário numericamente, mas sem articulações de base incisivas que reflitam em sua representatividade política – o que levou a fácil associação entre a manifestação política de Bolsonaro e seu eleitorado, de cunho privado dentro do contexto brasileiro, alinhadas as ideias do regime nazista de Hitler e fascista de Mussolini.

O grande erro do PT foi lá atrás, como já me disse o Professor Sérgio Fonseca, quando vira as costas para o campo progressista e autoritariamente indica Dilma para o pleito sucessivo do legado de Lula, um verdadeiro poste político. Com a crise de 2008, as diversas acusações de corrupção levantadas desde o mensalão de 2006, como se o PT tivesse inventado a corrupção, pois o PT não inventou a corrupção, inventou pobre e preto dentro da Universidade Pública e andando de avião, o que convenhamos é muito pior, e a partir daí o país ladeira abaixo com o golpe, a lava jato made in usa e sua judicialização da política, pois, em qualquer país sério, Sérgio Moro teria pego uma boa cadeia pelo grampo a presidente Dilma (nos USA era cadeira elétrica).

O que Bolsonaro e as bolhas nos trazem de novo neste pleito é que aquilo que antes mantinha-se velado e discutido no privado, em âmbito particular nas esferas sociais brasileiras, mas que reproduzem-se claramente nas instâncias de poder e resistem firmemente a questionamentos e mudanças no foco das decisões, como a livre manifestação racista, as opiniões misóginas e os posicionamentos políticos machistas, o desprezo pelas relações homoafetivas, que deslocam tais grupos a cidadãos e cidadãs de segunda classe, nunca foi trazido de forma tão explícita à opinião pública. A tentativa de sabatina de William Bonner no jornal nacional a Bolsonaro reflete bem isso, quando em determinado momento o candidato encurrala uma das maiores emissoras de comunicação do mundo dizendo que ela apoiou a ditadura militar. Que moral teria a Rede Globo, grande financiadora da publicidade eurocêntrica, do modus operante heteronormativo de sua estética artística, o seu jornalismo racista – aliás a jornalista Rafaela Marquesini da afiliada Globo local acaba de manifestar no jornal de meio-dia que um ato de racismo cometido pela polícia militar do Espírito Santo contra a livre manifestação pública de jovens em uma comunidade periférica de Vitória, com tiros de bala de borracha, jogando meninas adolescentes no chão, no melhor estilo tiro, porrada e bomba, dizendo que “A PM agiu duro...”, como se isso fosse corriqueiro e aceitável em bairros de maioria branca e de classe média em mesma situação.

Nas vésperas da eleição, o organizador de um evento em que eu participava pegou o microfone e disse que “eleitor de bolsonaro presente tinha que meter o pé senão ia levar ripada”. Daí, pergunto: Bolsonaro não representa realmente um retrato fiel do brasileiro e da brasileira médios?? Quantas vezes não nos policiamos em nosso dia-a-dia acerca de manifestações de intolerância e saindo um pouco na tangente da discussão sobre o estigmatizado “politicamente correto”, como nós nos posicionamos em nossas relações profissionais, em nossas relações diárias de trabalho e consumo, que não de forma individualista, beligerante, egoísta, injusta, raza, dando ouvidos a fontes de informações duvidosas, ou mesmo difamando pessoas, desconstruindo fatos e conceitos e relativizando sofrimentos, para que tão somente a nossa justa e honrosa felicidade venha à tona?

A glamoralização da violência pela mídia, assim como a estigmatização racista das comunidades periféricas; a ineficiência do aparelho público, gastando de forma inadequada montantes de recursos que privilegiam determinados grupos econômicos em detrimento da maioria; a omissão da sociedade, de nós indivíduos, acerca das estruturas de poder, do funcionamento destas estruturas, nos trazem o cenário atual de 60 mil assassinatos por ano, miséria, corrupção e milhões de desempregados. Será que a resposta para os nossos anseios caíra de pára-quedas?

Os homens que se escondem em cavernas como trogloditas são privados em seu modo de vida particular das relações para com a sociedade, que é tomada então como algo objetivo e exterior a eles: Enquanto os homens que vagueiam como nômades nas grandes massas são privados em sua existência alienada da possibilidade de encontrar a si mesmos (HABERMAS, 2002)”.

...pois bem, o senhor é conhecedor dos crimes humanos, da besta da carne e osso que assola o dia até anoitecer e do anoitecer até o dia. Pois bem, o Anticristo é a redenção do puro. Todo crime é culpa da compaixão, do fraco. Onde todos são fortes não há tirania...” ( Trecho de Ponto Morto, romance de Saulo Ribeiro, pag. 83).

Fico com a minha amada Vó, que a Divindade a tenha em um bom lugar, que já dizia: “Arde mais sara, amarga mais cura!”. E que assim seja!!


Emmanuel 7Linhas

30/10/2018

domingo, 7 de outubro de 2018

O PLEITO EM MEU PEITO

Eleição em meu bairro é tempo de ver homens velhos barbudos que há muito não se veem, se abraçando, apresentando as crias, falando dos velhos tempos, da época de pipa, do carrinho de rolimã, do furingo na ladeira. Época de encontrar velhos amigos que de uma forma meio que intuitiva manteem o domicílio eleitoral próximo ao bairro onde cresceu. Dia de eleição é o dia dos crias, de passar a limpo rapidamente a saudade (ou o constrangimento) em rever quem a muito deixou o bairro dos pais pra cuidar da própria vida. É tempo de ver aquele senhorio de mãos dadas com sua senhora, muitos levando filhos já crescidos e os netos a tira-colo.
É meio que um carnaval fora de época, mas no dichavo, pq tem sempre aquela mística de lei seca que de seca mesmo não tem nada, acho que em dia de eleição os bares até vendem mais, muitos de porta semi-aberta, com a rapaziada das antigas reunida, botando o papo em dia, falando do mercado da boca de urna, quem pagou tanto, quem pagou menos, o candidato tal deu tanto mas nele não voto nem a pau.
Toda a beleza e todo o caos da manada humana que se organiza e se manifesta para o exercício cívico de escolher o candidato preferido, tipo concurso de mis, concurso de popularidade, quem é o mais chegado, o deputado candidato irmão do primo do meu sobrinho fulano de tal. Mas também nas entrelinhas dos sorrisos, do ato antropofágico há a brevidade da vida, a depressão pelo princípio da eficácia não assimilado, as contradições em fratura exposta colocadas nos dedos que apertam botões como se espremessem rosas para cultivar espinhos.
Todo pleito para mim tem sabor à deriva, análitico, existencial e não diria pessimista, mas como um passante náufrago neste formigueiro, como diria Mestre Iran "contabilizando grãos de areia", um andarilho a observar o quão grande é o percurso em direção ao estado de bem estar social de nosso lindo país, de enormes riquezas naturais e que talvez por tanta abundância seja amado de maneira tão sem esméro.
O pleito de hoje é sem dúvidas especial, o encontro das hiper-bolhas direcionadas como gado ao abate pelos senhores google e facebook, onde essa marcha fúnebre fedendo a enxofre, até pelo fato de ter recebido a notícia por ontem de mais um amigo que se suicidou, tira cada vez mais o véu da ingenuidade catequizada acerca do animal político de Aristóteles, perante o organismo social e suas vestes de ignorância à dor alheia.
No apertar dos botões casamentos serão rompidos, creches deixarão de existir, aquela sobrinha estudiosa teria uma brilhante carreira na engenharia. Na combinação de números, como num jogo de armar, a arapuca se fecha sobre nós, creches deixam de ser construídas, hospitais reformados, fortunas se erguem e na encruzilhada da vida, no emaranhado de possibilidades, caminhos tortuosos nos levam a rotas inesperadas - e sempre assim serão.
No caminho das incertezas socráticas, a inveja do percurso da história, feito a um milênio de vantagem, que queimou fases de barbárie, construiu progresso mas que inevitavelmente, como é da vida, também terá os seus problemas.
Só penso que tudo poderia ser mais fácil...poderia...deveria.

domingo, 30 de setembro de 2018

ODE AO CEMITÉRIO

ODE AO CEMITÉRIO

Vc assa:
Eu não acho graixa

Abaixa
Na baixa do sapatunes

O cortejo fúnebre da criatividade:
Eu faço samba sem amor até de manhã

Quem manda no big broder é o diretor Vô!

-Ainda amo aquela mulher Arnaldo
-Ahn?

O transporte público poderia ser meu divã (ou holocausto)

E eu hoje acordei pensando:
Conversando Flow Eugênio Bucci:

O @presente @onisciente é o @espectro, o @espetáculo

Cartola - sem chapéu
Saiu de Angola pra Jacaré Panguá
E eu sai ca(n)tando Cavaco

Boi
Mancha
This is Kátia and Leminski
Sou herege hein London

O "time" [PRESS]
É gerúndio intermitente

Escrevejo,
Que nem meu corretor ortográfico me reconhece

Ótimo pra cama
Péssimo para apresentar aos pais

Um livro é uma cápsula
A memória, uma nave...
...dentro de cada entrave
7L


IMAGEM:  Mestre Batatinha do Samba da Bahia