A próxima geração de poetas romperá com o cristianismo exacerbado, que vê atônito seus filhos tombarem frente a violência estatal; comerciantes higienizando suas calçadas com o assassinato de pessoas em situação de risco; ex-maridos que matam as mães e com isso também seus filhos, por se apropriarem de uma pretensa superioridade moral que torna pessoas suas propriedades.
A próxima geração de poetas não dará a outra face a um pm, ou acionará a ouvidoria da corporação - composta tbm por pm's, numa pretensa perspectiva - no melhor estilo "SAC" - à parte terapêutica daquilo em que se deveria propor justiça, mas que tão somente serve como um CVV do caô discursivo acerca de uma ainda resistente vontade inócua de direitos, um ouvido "mui" amigo que não impede o operário de morrer na contramão atrapalhando o trânsito.
A próxima geração de poetas abdicará de microfones, oficinas e essa conversa tola de que "o Hip-Hop salvou minha vida", pois ao cortarem-se as verbas de financiamento para uma cultura livre e libertária só lhes sobrará o "Rap Gospel", expressão messiânica de uma pretensa caricatura cultural de resistência, inserida, amordaçada, pacificada, reduzida a serem braços direitos de um estelionato ideológico nas periferias, através da teologia da prosperidade elencada pelo próprio senhor satan.
A próxima geração de poetas será o estilingue das pedras na Intifada de vida ou morte, traçando estrategicamente as formas de derrubar a dominação escravagista que proporciona a lavagem cerebral acerca de que o score para o consumo e o cartão de crédito da igreja universal do deus dinheiro vos libertará
A próxima geração de poetas não se calará, mas também não falará através de posts, twites de rédeas que mais são arcabouços equivocados, como esta própria postagem o é, na ingênua predileção de uma reflexão transformadora, com seus discursos inflamados, utópicos e pseudo-proféticos, pois a um bicho acuado só lhe resta atacar e onde nisto tudo a razão encontra-se morta
A próxima geração de poetas estará viva e com fome, não terá rosto nem nome, e apostará o seu sangue para que o sangue de seus filhos e filhas não seja a tinta que pinta o progresso regresso de uns poucos lobos sádicos a viver assentados sobre o sofrimento e a dor de muitos
A próxima geração de poetas fará do caos o seu playground, combaterá o mainstream e surfará no underground, junto aos ratos e as baratas pela luta de sua sobrevivência e não terá receio de entregar sua vida à esperança realista de que só o fim poderá retirar o lixo das ruas para um novo recomeço, menos perverso e desigual
A próxima geração de poetas não se contentará com likes ou com o modus operante do "cagar-ser e comer-ser" e celebrará a derrota de seus algozes sobre uma imensa fogueira alimentada pelas carnes daqueles que se alimentam de suas carnes
A próxima geração de poetas derrubará igrejas e as senzalas mantidas pelas megacorporações; implodirá shoppings e tombará governos autoritários que se apropriam de discursos ideológicos hipócritas, iludindo o povo com suas mentirosas promessas de seguridade material e social
A próxima geração de poetas brincará na beira da praia com suas crianças, construindo castelos de areia e lendo fábulas para lhes fazer adormecer. Não comerá seus bichos e não encarcerará os sonhos de seus semelhantes
Foto:
Um manifestante em chamas durante confrontos com policiais, em meio a um protesto contra o presidente venezuelano Nicolás Maduro, em Caracas (Venezuela), no dia 3 de maio de 2017. Foto indicada nas categorias 'Foto do Ano' e 'Temas da atualidade', feita pelo fotógrafo Romaldo Schemidt, da agência France Presse (AFP) ao prêmio World Press Photo 2018.