quarta-feira, 26 de junho de 2019

AmarElo - UM MANIFESTO - EMICIDA, PABLLO VITTAR, MAJUR

AmarElo - UM MANIFESTO!!!

EMICIDA, PABLLO VITTAR, MAJUR

"Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes..."

"Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro..."

Caso ainda não tenha visto o vídeo, por favor, nem inicie a leitura, não fará sentido nenhuma palavra na sequência.
Play now:
Bem, creio que agora podemos iniciar o diálogo sobre.
Duas possibilidades: Ou vc está tomado pelo brilho do vídeo ou se perdeu no meio das referências. Confesso que seguindo a orientação daquele velho professor, fiz o serviço de de ler o texto 3 vezes, assentou-se o dourado em meu peito desde o início, porém a cada visagem sedimentou-se ainda mais o sentimento acerca da grandeza do artista enquanto coisa, acontecimento, criador de mundos, de identidades.
Emicida, samurai peito aberto espadachim do guetho nigga, como diria Bia Ferreira, tem em seu íntimo, em sua obrigação existencial ser cada vez mais drástico, profundo, evoluído, filosoficamente e esteticamente melhor - psicologia periférica, como diria meu irmão psicólogo preto do norte.
Evocando as bençãos do cancioneiro brasileiro, o gênio existencial Belchior, Emicida, além de repaginar, nos proporcionar o deleite de uma grandiosa releitura, ele vem e nos traz inúmeras problemáticas contidas em um só vídeo e particularmente não pretendo destrinchar cada ponto que presumo ter sido abordado, pois com certeza vou falhar. Sua obra é quase que inesgotável e creio que o objetivo não é olhar para ela em si enquanto um redemoinho ou um buraco negro que tudo traga, mas sim enquanto catapulta.
O áudio introdutório acompanhado das imagens é um manifesto à sobrevivência do povo pobre e preto nos tempos atuais de genocídio espiritual e material, tempos de necropolítica, sadismo e higienização social. Um relato tristemente verdadeiro de um sobrevivente deste tempo passado - todas e todos somos sobreviventes - e nisto, neste vídeo-música-terapia de cura, Emicida faz um apelo ao seu povo preto, um apelo à sobrevivência, um "retorno ao ringue", "onde depressão é a última tendência com aparência de férias".
Não vi até o momento nada tão genial sendo produzido em vias de trazer luz a tempos temerosos e tão trevosos, onde o mal, onde sentimentos ruins se tornam o discurso oficial. Emicida se reinventa, nos reinventa e até re-significa o verde amarElo.
Nas estórias de pano de fundo - todas estórias reais de superação - que se entrelaçam na própria estória pessoal de Emicida, que brilhantemente traz Pabllo Vittar para seu merecido lugar de destaque junto a genial Majur, com o qual a homofobia, o racismo e o neo-nazismo teimam em tentar derrubar, está o supra-sumo do signo da resistência: O sol, dourado, amarElo, que a cada dia, por mais nebulosa e fria que seja a noite, retorna ao centro do dia para brilhar.
Essa genial obra artística é um grande manifesto.
Com a fúria da beleza do sol. Eu prometo!!


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