segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

POEMA NEGRO



POEMA NEGRO




Para uma mulher negra ou um homem negro

A arte é seu luto
É a forma de conversar com seus ancestrais
É o choro contido por seus mortos

É a dor da perda
A saudade pela ausência, pela distância
Que não é medida em metros, mas em séculos

Batemos forte nos tambores
Pois é o sentimento transmutado e externado das crianças escravizadas
A arritmia em seu peito ao serem separadas da mãe
Seja no pelourinho ou na árvore do esquecimento

Cantamos alto e grave
Pois nosso choro tem afinação
E quando nos sentíamos sozinhos
Mãe Oyá, em meio à tempestade, falava conosco
Nos enviando seu trovão!!

Nossos corpos sinuosos
Estão sempre fugindo do olhar maligno escravagista
Driblando os obstáculos da selva
Desenhando através de sua beleza o nosso desespero
Por isso não somos um balé de cristal e sim um pulso sanguíneo e erótico

Somos a celebração da vida e a luta contra o banzo e a morte
Por sorte, nossas mãos são boas para a plantação e para o artesanato
Moldam no pensamento os seios fartos de África
Abraçam o mar de OdoYá e os rios de Osún 

E nosso olhar brilhante e atento é o cordão umbilical
Que irá nos conduzir de volta ao templo de Aruanda
Onde faremos os corpos de nossos inimigos tremerem mais que um terremoto
E seus sorrisos cínicos desaparecerão de seus rostos
Suas famílias e suas riquezas murcharão
Até que nossa arte lhes provoque uma lágrima a escorrer-lhes por dentro

E a nossa beleza será a nossa redenção
E a nossa arte será o vosso perdão.
Asè Ilê


Emmanuel 7 Linhas
29 de Fevereiro de 2016
Vitória, Espírito Santo

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