quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

RESPOSTA AO PROFESSOR GRIJÓ: Funk, cultura e livro




Saudações Professor!

Sobre a supra citada crônica do dia 29 de janeiro, a considero raza e com um elitismo desproporcional - o que na antropologia é chamado de "reducionismo".

"O que se costuma chamar funk" é uma das maiores manifestações culturais brasileiras, advinda de referências do R&B estadunidense, onde o carioca radicado nos EUA Stevie B  ganhou notório destaque na década de 80 com oq é chamado no Brasil de "Funk Melody", juntamente com sonoridades eletrônicas de grupos tais como Africa Bambata, entre outros, adicionados a arritimia dos tambores de candomblé e de referências de dança ancestrais crivadas na alma da diáspora africana - vejamos o Kuduro por exemplo - com as quais montamos esse mosaico chamado "Funk Carioca", "Pancadão", "Batidão", "Brasilian Afro-Beat", muito divulgado e apreciado na primeira década do novo século na Europa, através do DJ Malboro, que discotecou nas maiores casas da França, Alemanha e Reino Unido.

Atualmente o Funk carioca movimenta cifras gigantescas no mercado cultural brasileiro, gerando emprego e renda através do "faça você mesmo", com os quais os empresários do funk, assim como os do brega do Pará, trazem a tona por vias de sua própria técnica de administração d erecursos, superando o racismo institucional brasileiro e sedimentando nas periferias e também entre jovens de classe média uma das maiores manifestações populares de nossa História.

No livro "o mundo do funk carioca", o sociólogo Hermano Viana nos abre seu diário de bordo acerca da experiência de um jovem branco, de classe média, com formação acadêmica, imerso no universo dos bailes funk's das favelas cariocas da década de 80, onde destaca-se ali o olhar antropológico acerca de um movimento cultural, a partir de dentro, sentindo junto, dentro dos bailes.

O samba, a mpb, a Bossa Nova, não são  os ritmos mais populares brasileiros da atualidade, observamos a ascensão do "sertanejo universitário", o "arrocha", juntamente com o funk carioca nas listas de destaques em quaisquer festas de periferia, como também em várias casas noturnas de classe média alta.

O que é cultura brasileira??

É a cultura dos livros, das academias brancas e elitistas?

O que incomoda no funk carioca, o valor exacerbado do corpo?

Assim como o samba, a capoeira, o candomblé, o funk carioca sofre da amálgama elitista brasileira em não observar que é vã sua tentativa de tornar-nos uma europa dos trópicos. O funk é o corpo como tábua primeira, a partir da leitura de Hermano pude entender as tais "rodas de sexo" da década de 90 e os "corredores", onde jovens se dispunham nos "lado A e lado B" dos bailes, se enfrentando fisicamente, como dois exércitos. Qual a forma de demonstração de poder que pretos e pretas na periferia mais tinham fixadas em seu cotidiano? Respondo: polícia e sexo!
A juventude de periferia via na agressão ( e ainda vê) física o instrumento de poder, assim como as jovens negras com seus "cabelos de pico", excluídas dos comerciais de shampoo e das novelas da globo, davam vazão ao único espaço onde elas eram detentoras de poder pelo critério de serem exclusivas, as únicas mulheres disponíveis: o baile funk!

A cultura de periferia é a cultura popular brasileira, com a nossa classe média gostando ou não, ficamos orgulhosos em ver a nossa sexualidade sendo exacerbada em nossos bikinis e  culturas. Como o corpo pode não ser a cultura popular brasileira professor???

O corpo é a cultura brasileira - os dribles de Garrincha, o rebolado de Carla Perez, assim como o humor nordestino, a poesia paulista, a transcedentalidade amazônica - somos mosaico - e nenhum radicado fora ou então alguém de um país de Putin's onde os padres ortodoxos abençoam fuzis em suas missas podem demonstrar qualquer estranhamento sem a nossa desconfiança.

Um dia seremos um país de leitores, porém, leitores dançarinos e sexuais.

Como costumo dizer, ninguém sexta feira a noite vai para uma boate ouvir chico buarque....cada um em sua móira...

"É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado..."


Emmanuel 7 Linhas
Funqueiro, Rapeiro, Repentista, Sambista, Ator, Arteiro, Poeta e passista - Preto e Favelado: Zeitgest!!

LEIA O ARTIGO DO PROFESSOR GRIJÓ:
http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2013/01/noticias/cultura/1394775-cronica-do-dia-funk-cultura-livro.html