sexta-feira, 18 de novembro de 2011

REFLEXÕES SOBRE A VIDA - Por Sérgio Fonseca





A filósofa capixaba Viviane Mosé - que lança novo livro, "O Homem que Sabe: do Homo Sapiens à Crise da Razão" - deu uma entrevista bastante estimulante recentemente. Ela tratou de vários assuntos interessantes, sobretudo quando abordou os aspectos irônicos do indivíduo pós-moderno. A realização dos sonhos e a a utopia já fazem parte do catálogo da era passada. Realizaram-se, mas deixaram um alto déficit na conta da história contemporânea.
A abundância de bens e serviços mostrou que o acesso ao consumo não recobre os complexos desejos e a interminável busca pela felicidade que cultivamos há séculos. Continuamos angustiados, apesar dos bolsos cheios. Um dilema moral-existencial que afetou todas as sociedades modernas prósperas, materialistas e futuristas no século XX.

O príncipe encantado virou um "chato". A vida idealizada, na cidade ou mesmo na "casinha de sapê", não existe, é jogada política ou tara de vigilância do Estado, artifício de publicidade, representação de supostas emoções humanas, ficções platônicas de mundo.

Os modelos de família que balizaram a civilização cristã moderna se desmancham chocantemente diante de nós. O atual modo de produzir e consumir, que é insustentável, torna-se obsoleto, levando consigo um punhado de valores que achávamos eternos e imutáveis. O solo dos valores balança de modo intenso e cria imagens de vida estupendas.

Se Nietzsche tinha razão, então a tese de Arthur Schopenhauer de que o sofrimento é a essência da vida assume a dianteira do debate. Segundo Mosé, podemos "usar" em nosso próprio proveito a dor e o sofrimento, sem nenhuma necessidade de artificializá-los.

Pode o sofrimento sustentar a vontade de viver? Na arte e na religião pode. Nietzsche vai além, ele avança até o ponto da virada de uma vontade negativista para uma positiva, da potência e do querer viver mais.

Ele exigia do indivíduo moderno que fosse forte o suficiente para lidar com um mundo niilista, um deserto de valores. Nietzsche sugeriu que um tal ser extraordinário, o super-humano, tinha o dever de produzir valores positivos, ainda que carentes de fundamentos sólidos.

E é por isso que Viviane Mosé parece, salvo outro juízo, querer contribuir para o novo homem e a nova mulher com uma imagem de mundo simples: quando for sair para o carnaval não se esqueça de levar debaixo dos braços a dor e o sofrimento, pois eles, pode ter certeza, serão os seus únicos faróis confiáveis!

Sérgio Fonseca é historiador


Nenhum comentário:

Postar um comentário