INFERNO
Nas profundezas do inferno em que ergueu-se minha solidão, mastigo com os dentes podres de minha boca aquilo que ainda resta de minha alma
A pouca poesia que habita em mim alimenta-se, tal qual um verme em minhas entranhas, de todas as dores que me permeiam as lembranças
Lúgubre, tornei-me o que mais temia: Um pobre diabo inflamado pelo rancor
Tecem meus passos tão somente o sedutor atalho para o abismo
Não há em mim nada mais que me interesse
Incendiarei minha casa antes de partir e através das chamas flamejantes observarei queimar tudo aquilo que nunca foi meu
Arrancarei minha pele para afogar-me no álcool
Furarei meus olhos antes que nasça o sol
Com meus pés descalços, por entre brasas, arrumarei minha cama de deitar
Não doarei meu ódio gratuitamente e nem gastarei tempo demais com pequenas vinganças
Toda depressão, toda tristeza, todo luto reúnem-se em mim
Arrancarei meu coração com as próprias mãos e ofertarei aos cachorros de rua
Tal qual o ladrão que visita sempre à madrugada, me farei presente por entre pesadelos
Um calafrio, um arrepio invadirá teu corpo toda vez que tua mente formular-lhe minha imagem
Nas margens dos círculos da miséria erguerei um templo de dor, onde tão somente assassinos de sonhos a entrada será permitida
Matarei meus filhos no parto
Enviarei meus pais ao exílio
Não terei pátria, muito menos destino
A fome será minha companheira
A morte deixará de existir
Todos os meus dias serão noite
E nada que você venha a fazer poderá me impedir
Estaremos juntos, eu e meu pior inimigo
Pintarei um quadro entre soluços e cólicas
Não canalizarei meu sexo noutra identidade
E assim quando encontrar-me totalmente só, sem referências, sons e ou poesia
É que poderei medir a distância da sua vida e a minha
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