quinta-feira, 6 de novembro de 2014

VEM PRA RUA: A MICARETA POLÍTICA DE UMA ALMA DESARMADA









Em contraste ao estigma pseudo-midiático de que o Brasil é um país pacífico, de um povo alienado politicamente, estático e acéfalo, gosto da constatação do Professor Boaventura Souza Santos  que além de cravar o conceito de recepção versus a epígrafe da alienação, afirmou que o Brasil é um país de atividade política popular intensa - vide os inúmeros movimentos sociais dispostos por todo o território brasileiro.


No transcorrer de toda a estória de formação do país Brasil, os confrontos entre a população insatisfeita, grupos separatistas, guerrilhas, quilombos, bolhas pós-modernas de combate social, hackers, punks e insurgentes contra o estado oficial, é dado e fato estórico. Na base de nosso povo está a diversidade,  tanto de opiniões quanto de origens, perspectivas, mas sempre atrelados a uma miscigenia congruente onde o contraste não é execrado ou ignorado, é o composto de todo dia-a-dia de quaisquer brasileir@s.


Caras pintadas, pró-cotas, anonymus, pastorais da criança, pré-universitários alternativos, grafiteiros, grupos de capoeira, igrejas evangélicas que distribuem comida nas madrugadas frias dos postos de saúde, casas de Umbanda que recolhem roupas e alimentos para os mais necessitados - onde está essa apatia política tão conclamada acerca do povo brasileiro???


Minha formação política na década de 90 passou por grupo de jovens católicos, movimento hip-hop, pré-universitário alternativo voluntário, movimento sindical, movimento estudantil, violão e fogueira ao som de legião urbana, cazuza e mais a frente, O Rappa, Rage Against the Machine, Chico Science e Nação Zumbi. Existia uma aura de transformação acerca dakela geração, um presidente operário foi posto no poder, um desejo de mudança imperava a todas e todos, enfim, boa parte de nós "urbanistas" alcançamos a "crasse mérdia", o acesso a bens de consumo, cartão de crédito, universidade pública, carros parcelados. E onde foi que nós chegamos com tudo isso???


Observo com muito orgulho minha guria de 14 anos querer ir para rua nas atuais manifestações, pois,  segundo ela "o que eu vou dizer pro meu filho mais a frente, que eu não estava lá?", e vejo que antes de dizer que isso tudo não vai dar em nada, antes de chamar essa gurizada de emo, de caretas, de micareteiros, temos que observar que o Brasil é o país dos encontros, de etnias, povos, gerações, desejos, preconceitos, perspectivas, sonhos. O transporte coletivo das metrópoles brasileiras reflete muito do que não queremos enquanto sociedade: um lugar abatalhoado de gente imprensada e solitária, olhos perdidos e cansados, um gosto de "sem direito", um véu de navio negreiro, gélido, individualista, tanto quanto o menino Thor e sua mc laren possante, isolado, sem amigos baratos...


A geração Y, tão criticada por seu isolamento socio-virtual, seus games e memes, sua alienação política ( o que chamaria de descrença) coloca na cidade de vitorinha, capital do Espírito Santo, um dos estados mais conservadores e beligerantes do Brasil, cem mil pessoas em uma manifestação dita "sem liderança", a-partidária, cobrando mais do que 20 centavos, cobrando visibilidade, responsabilidade, profundidade e principalmente, reconhecimento e diálogo.


O Cantor Marcelo Falcão, ícone político dos jovens pós renato russo de minha geração, após o estardalhaço do jingle midiático para uma propaganda de carro implodir um sentimento contagiante, que mistura carnaval (lembrando que o carnaval, além de ser festa da carne, era o momento em que a pólis zombava de seus governantes [com a devida autorização] publicamente), micareta, ativismo político, esperança e uma resposta a tal alienação e nilismo latentes de uma geração o qual muitos diziam que não sabia pensar, responde, o tal cantor,  que só colocou a voz no jingle, só isso....tsctsctsc Falcão, que alma mais desarmada a sua!!!!


Com o fluxo cada vez mais intenso de informação e anseio, vejo jovens  disputando o pleito político institucional, forçando as pessoas a pensarem, a tomarem partido, a saírem de cima do muro, questionando a uniformidade do discurso, questionando o distanciamento das demandas oficiais com os sonhos e anseios da população.


Não acredito que no Brasil, realmente queremos o fim do pão e do circo, da copa do mundo e do carnaval, ao contrário, pão com presunto é uma dilicia como diria o chaves e o circo é uma das manifestações mais geniais da arte - ser palhaço não é pra qualquer um!!!!


Mas queremos o diálogo, o respeito, que as responsabilidades sejam assumidas e não somente  o anseio individual hiper estimulado...


Me entristeço em ver uma liderança mítica do naipe de Falcão deixar vir a tona o seu lado mais comum, mais humano, retirar o personagem de nosso imaginário, de nossos sonhos, mas me orgulho em ver um garoto, tão zuado, hostilizado e até odiado por alguns, pedir a camisa 10, a camisa da tradição, a camisa de Zumbi e de Pelé, a camisa de quem resolve e dizer antes do jogo contra o méxico que se  inspira nas ruas para entrar em campo, que quer um país melhor, mais justo e mais honesto para com as pessoas, palmas a Neymar, que atingiu seus sonhos e não foge de suas responsabilidades....

Espero que os Midas não tenham mais o sono tranquilo, que as raposas políticas continuem na espreita pois o Gigante não acordou, isso é jogada midiática, é tag pra boi durmir, vá as ruas, nós sempre estivemos e estaremos lá, mas o grito dessa geração foi por reconhecimento, identidade, diálogo, comunicação, respeito, canal aberto, um grito pra ficar na memória, pra fazer história!!!


Emmanuel 7 Linhas

(Literalmente balançado com o balanço da terceira ponte, e que sejamos pontes - sem pedágio!!!)

P.s.: resolvi publicar esse texto um ano depois da manifestação de junho por influencia da obra de Criolo, tocado pela voz das ruas.




BOCA DE FUMO CONTRATA:





BOCA DE FUMO LOCALIZADA NA PERIFERIA DOS SONHOS BUSCA PROFISSIONAL HABILITADO PARA VENDAS EXTERNAS  DE ENTORPECENTES NO VAREJO

Requisitos:

- Saber as 4 operações básicas da matemática (soma, subtração, adição e divisão);
- Ter dinamismo, boa comunicação e visão periférica;
- Ter péssima apresentação, pouca tolerância e rispidez elevada;
- Saber o significado da expressão "pernas para quem te quero";
- Boa pontaria;
- Disponibilidade para trabalhar sob regime de escala;
- Ter advogado.


Benefícios:

- Rendimentos diários acima de 300 reais;
- Um olheiro par auxiliar o trabalho;
- Alguns policiais arregados para avisar quando forem tomar a boca;
- Poder experimentar o produto vendido;
- De cada 15 pedras de crack vendidas, o valor sobre 4 é seu;
- Seguro contra guerra de traficantes;
- Morrer jovem;
- Sexo, alcool, armas a disposição;
- Ser "respeitado" pela sociedade;
- Passagem direta para o inferno


O Processo seletivo consistirá em prova de tiro.

Att.

O Patrão

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

### DEMÔNIO SÃO ####





Assim como o sândalo perfuma o machado que lhe feri
Fui desmascarado por mim mesmo: Minha natureza é má!
Escrevejo para de-monstrar o quanto sou ruim sendo eu mesmo
Ao mínimo não mais me obrigo a esconder
O mar de egoísmo com o qual me movo, nadando a braçadas

Sou eu o cerne do meu sadismo
Ninguém tem culpa de nada
A minha crueldade é tamanha que me surpreendeu
Não reclamaria se o machado da justiça ceifasse meu pescoço

Meu espírito nunca existiu
Por mais que um labirinto de espelhos eu refletisse a filosofia vã
Acordo pela manhã sempre insatisfeito
Rezo a noite por covardia

Nunca entendi bem a preguiça em tentar ser melhor
E minha solicitude em parecer ser bom
Agora todos os espinhos se encaixam
Percebo o quanto tentei disfarçar meu podredor, meu fel, minha navalha afiada

Sou tão qual leviatã
Filho do Pai da mentira
Fraco como o fio da verdade
Que nos une a esperança do amanhã

A irresponsabilidade da vontade
Quis ser bom de coração
Pisando em delicadezas da ilusão
Mascarando o meu descuidar com quem me amou

Tudo se acabou, ao tempo que nada existiu
Nem farsa, só gélida e tácita crueldade
Para o louco o normal diz: farsa!!
O sol podia me facilitar o trabalho se suicidando

Tive tudo mesmo sendo cáustico
Vazio de sentidos e piedades
Ainda tenho medo da morte e me dou o luxo de pagar as contas
Peço desculpas e ajudo os pobres

Sinto pouca culpa
Solidão
Assino com seu sangue minha rúbrica
Bálsamo sagrado do inferno dos que nunca são



Emmanuel 7 linhas


foto: Tati Hauer 
Show Pó de Ser Emoriô / Festival de Inverno de Domingos Martins - ES 
Maquiagem: Samir Oliveira

terça-feira, 26 de agosto de 2014

# A GÊNESE DA RIMA - OFICINA DE RAP #



foto: Oficina de Rap "A Gênese da Rima" - Flexal 2 - Cariacica / ES - Coletivo Aprender Cultura


Por Emmanuel 7 Linhas


Introdução



A sigla RAP está basicamente ligada a “Ritmo e Poesia”, podendo encontrar outras definições e origens de acordo com a pesquisa e a fonte. O RAP, é  junção entre o texto e o ritmo, entre o DJ (Disk Joquei) e o MC (Mestre de Cerimônia), no que tange a compor o viés Musical principal do Movimento Hip-Hop.

O Movimento Hip-Hop é um desdobramento cultural de resistência da diáspora africana, no contexto da modernidade; reúnem-se componentes artísticos, políticos e históricos em torno da luta pelos direitos civis das minorias políticas excluídas. Tem a origem, enquanto produto cultural, atribuída ao DJ Jamaicano Kool Herc e no processo migratório dos Jamaicanos e seus “sound systems” para os guethos de Nova York durante as décadas de 60 e 70. Vale destacar que estruturas similares ao RAP, tais como repente, embolada e outros gêneros mundo a fora são bem mais antigos do que tais eventos, porém a junção do eletrônico com  um discurso político e artístico de Negros e Negras, Latinos e Latinas e outras minorias brota desse momento histórico.
É, juntamente com o Movimento Negro, um dos maiores eventos sociais de resistência da diáspora africana no Século XX, organizando luta, busca por conhecimento, ações de empoderamento, através da formação intelectual e da arte engajada.

O Hip-Hop, no Brasil, começou a se popularizar a partir da década de 80 em São Paulo, e sempre fora apresentado através de 4  braços ou elementos distintos: O Break, O DJ, O MC e O Graffiti, onde com o avanço e as especificidades da luta da periferia brasileira, tanto para melhorar suas condições de sobrevivência, quanto para se aplicar ações artísticas de conscientização para com essa luta, fez o necessário surgimento do 5º braço, O Político, atuando na orientação ideológica e produção cultural. Podemos destacar também que com o passar dos anos o movimento Hip-Hop, especificamente em se tratando de Brasil, ganhou a inserção do Cinema, da Pedagogia Libertária ou Pedahopia, da Literatura Marginal, assim como o Beat box,  enquanto importantes aspectos característicos de sua cultura.


Elementos musicais para a construção de um RAP

O RAP é um discurso rimado que se difere da simples declamação poética e do repente, por sua métrica, por seu ritmo e por sua desenvoltura, chamado “flow”.
A rima pode ter o acompanhamento de uma base eletrônica original,  um “sampler” (recorte de uma música conhecida), o acompanhamento orgânico de instrumentos musicais, o Beat box ou de quaisquer mecanismos que possibilitem a marcação da métrica da rima e enriqueçam harmonicamente o RAP, assim como pode ser desenvolvido a capela dependendo do efeito que se quer dar.
 
A Base é composta por compassos, marcada com variações de grave e agudo, mais comumente bumbo e caixa, quando uma base eletrônica, visando a cadência do flow:

a) Tum+pá Tumtumtum+pá Tum+pá Tumtumtum+pápá
b) Tumtum+pá Tumtum+pá tumtum+pá Tum+pátum+pá

Exemplo:


“Oitavo Anjo “ – 509-E:
http://www.youtube.com/watch?v=H2AUKvLlZvI


Exemplo de introdução:


“Jesus Chorou” – Racionais MC’s
http://www.youtube.com/watch?v=RVvoeWak-WM


Exemplo de RAP com base orgânica:


“Testando” – Ellen Oléria
http://www.youtube.com/watch?v=mYA43VTpxIA



Elementos poéticos para a construção de um RAP


Um RAP, por ser poesia, possui versos e estrofes em sua estrutura, que auxiliam na construção  e fixação da idéia, sendo verso cada linha do RAP e a estrofe o conjunto dessas linhas.

O mais comumente usado são as estrofes com 4 versos, onde o primeiro verso pode rimar com o segundo e o terceiro com o quarto – AABB, ou também o primeiro com o terceiro e o segundo com o quarto – ABAB, não sendo necessariamente uma regra absoluta.


ABAB:

“Minha intenção é ruim / esvazia o lugar / Eu tô em cima, eu tô afim / um dois pra atirar
Eu sou bem pior / do que você tá vendo / O preto aqui não tem dó /  é 100 por cento veneno...”


AABB:


“Aqui estou, mais um dia.
Sob o olhar sanguinário do vigia. 
Você não sabe como é caminhar
com a cabeça na mira de uma HK...”




Começando um RAP


Um RAP nasce da inspiração, da leitura, da pesquisa e da audição de outros RAP’s e gêneros musicais.

Algumas dicas:

1- Tenha um caderno de rimas

Tenha sempre papel e caneta a mão, a inspiração pode surgir do nada, no meio da noite, no meio da aula, no ônibus, em uma conversa; gravar no celular também é excelente, principalmente se você já tem o hábito de escrever o verso ritmado.

2- Seja sincer@ e pense profundo

Um bom RAP nasce do coração e atinge o coração das outras pessoas. Mesmo que ele tenha um viés engraçado, ou político, ou gangstar,  ele necessita ser original para ser valorizado, por isso tem que ser bem pensado (pensar é ruminar), escrito e re-escrito. Pense no tipo de emoção que você quer causar nas pessoas, e nunca, nunca utilize letras que não são suas - no RAP principalmente, é muito difícil a prática de cover, principalmente pelo fato de que cada MC tem seu estilo e o deposita na letra, além do que a maioria das letras são relatos pessoais d@s artistas, por isso muito cuidado na utilização de rimas conhecidas.

Exemplo:

Emicida – “O Glorioso retorno de quem nunca este aqui”
http://www.youtube.com/watch?v=Oe6dpYScIKE

Documentário: O Rap e a Mídia
http://www.youtube.com/watch?v=rdHJF_OfBYo



3- Pesquise

Para que alguém escute  o que você tem a dizer, você precisará trabalhar duro, ter calma e entender bastante do processo de composição de um RAP. Para escrever bem é necessário estar atento a boas idéias, ler matérias interessantes, que lhe tragam conhecimento para a sua vida e não só para a sua rima, ouvir músicas de variados estilos, principalmente com uma cabeça de compositor e não de público, pensando na intenção de quem fez  tal música na hora de criá-la. Para ser um grande poeta não há faculdade, a grande maioria dos artistas populares brasileiros do início do século XX tiravam a sua poesia do cotidiano, do dia-a-dia, mas isso não quer dizer que eles não estudavam, pois,  a maior escola que existe é a vida. Porém, nos tempos atuais você vai ser julgado pelo conteúdo e forma com o qual você escreve, por isso, ler bons livros só vai auxiliar-lhe no processo de construção de seu RAP; escutar músicas antigas, de gêneros musicais brasileiros e estrangeiros, analisando a riqueza poética de tais obras também são de grande importância; não se limite somente a audição de RAP ou escutar só o grupo que você gosta, pode fazer com que você se torne somente em sua composição uma cópia mal acabada de um grupo ou MC famoso, por isso é importante ouvir estilos e artistas diferentes. Outro ponto importante dentro do RAP é respeitar o direito do outro em manifestar suas idéias, pois o RAP surge da ausência de vozes que defendessem os excluídos, por isso, mantenha a mente aberta para outros compositores, assim também como para outros estilos. O Hip-Hop é além de tudo o grito dos excluídos.


Exemplo:

LIVRO “Hip - Hop a Lápis - Literatura do Oprimido” 


FILME “Malcom X”

http://rapnacional.virgula.uol.com.br/


4- Tenha algumas bases para exercitar seu flow

Em vários sites da internet, tais como o Youtube, você encontrará bases disponíveis para o exercício da sua rima. Baixar programas em seu computador ou procurar DJ’s, produtores iniciantes, assim como parceiros de composição também auxilia o conhecimento.
Leve em consideração a velocidade da base (bpm) em relação ao que você quer aplicar em seu RAP.



Construindo O RAP na prática



Pois bem, mãos à obra!!

Uma estrutura básica de RAP pode conter:


- Introdução
- A1
-A2
-Refrão
-A3
-A4
-Refrão

Não existe uma forma inicial para se começar um RAP, mas em se tratando de um processo de formação, pode-se tomar como referência essa estrutura básica. Um RAP pode também começar pelo refrão, como pode não ter refrão nenhum, sendo que ele deve ser o coração do seu RAP, caso seja usado.



Exercitando RAP

-Primeiro, escolha um tema. Por exemplo, o tema pode ser a cidade onde você mora;

-Defina uma frase inicial com dois versos e faça uma rima correspondente com outros dois versos, fechando a primeira estrofe;
 
“Eu moro em Cariacica / e não to de bobeira
Essa é minha cidade / Moro aqui a vida inteira”

Essa estrofe inicial não precisa necessariamente fazer parte da música, ela só vai sintetizar o tema do seu RAP, para que você possa ou a partir dela criar um refrão, ou pensar em como você vai desenvolver a sua idéia.

-Agora pense em como você irá iniciar sua letra utilizando algo que remeta a essa idéia central;

-Escreva a primeira estrofe com 4 versos;

“Cariacica, / cidade da grande vitória /Onde estão os meus pais, / meus avós, minha história”

-Leia somente a idéia inicial, como se fosse um refrão e depois leia a primeira estrofe;

Você pode ir anotando rimas que você acha que vão ser interessantes para a sua letra:

Cariacica – Itaparica – rica – fica a dica – larica
Cidade – verdade – intensidade – necessidade – variedade

-Outro ponto importante para qualquer texto desenvolvido, seja ele poético ou não é não ficar repetindo palavras ou no contexto do RAP o que é chamado de “emendas”

“se liga então”

“tipo assim”

“pode crer”

Só se esse for um artifício do seu refrão, mas no discorrer da sua letra pode deixá-la pobre.

-A partir da segunda estrofe, leia para você desde o início e fique repetindo, até ir construindo outras estrofes;

Um RAP não tem um tamanho definido, podendo ter 9 minutos de duração assim como 1 minuto só. O importante é que sua mensagem fique bem fixada.

Depois de concluída a letra faça 3 gravações de voz em cima da base, que pode ser uma base simples ou um metrônomo.

É importante procurar um DJ ou produtor experiente para dar uma escutada antes de lançá-la, assim como o intercâmbio com outros MC’s, ir a eventos do gênero contribuem.

FIM OU SÓ O COMEÇO

domingo, 17 de março de 2013

@@@@@ DIZ: HEY YO @@@@




Vou-me Star
On the
Pés Vejo (pés-ser-vejo)
Dez banjo
Téz beijo

Soul Fé, Jó
Boo(!) Che, xô
Key Yo...
...Soul Vento

The men tool
Oz Íris
Zoo
Cool paz

Jah
Che Rei Mui
To...
...Da Far (way) inha
Do Diz Hey Yo(!)


Emmanuel 7 Linhas
07.03.2013

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

RESPOSTA AO PROFESSOR GRIJÓ: Funk, cultura e livro




Saudações Professor!

Sobre a supra citada crônica do dia 29 de janeiro, a considero raza e com um elitismo desproporcional - o que na antropologia é chamado de "reducionismo".

"O que se costuma chamar funk" é uma das maiores manifestações culturais brasileiras, advinda de referências do R&B estadunidense, onde o carioca radicado nos EUA Stevie B  ganhou notório destaque na década de 80 com oq é chamado no Brasil de "Funk Melody", juntamente com sonoridades eletrônicas de grupos tais como Africa Bambata, entre outros, adicionados a arritimia dos tambores de candomblé e de referências de dança ancestrais crivadas na alma da diáspora africana - vejamos o Kuduro por exemplo - com as quais montamos esse mosaico chamado "Funk Carioca", "Pancadão", "Batidão", "Brasilian Afro-Beat", muito divulgado e apreciado na primeira década do novo século na Europa, através do DJ Malboro, que discotecou nas maiores casas da França, Alemanha e Reino Unido.

Atualmente o Funk carioca movimenta cifras gigantescas no mercado cultural brasileiro, gerando emprego e renda através do "faça você mesmo", com os quais os empresários do funk, assim como os do brega do Pará, trazem a tona por vias de sua própria técnica de administração d erecursos, superando o racismo institucional brasileiro e sedimentando nas periferias e também entre jovens de classe média uma das maiores manifestações populares de nossa História.

No livro "o mundo do funk carioca", o sociólogo Hermano Viana nos abre seu diário de bordo acerca da experiência de um jovem branco, de classe média, com formação acadêmica, imerso no universo dos bailes funk's das favelas cariocas da década de 80, onde destaca-se ali o olhar antropológico acerca de um movimento cultural, a partir de dentro, sentindo junto, dentro dos bailes.

O samba, a mpb, a Bossa Nova, não são  os ritmos mais populares brasileiros da atualidade, observamos a ascensão do "sertanejo universitário", o "arrocha", juntamente com o funk carioca nas listas de destaques em quaisquer festas de periferia, como também em várias casas noturnas de classe média alta.

O que é cultura brasileira??

É a cultura dos livros, das academias brancas e elitistas?

O que incomoda no funk carioca, o valor exacerbado do corpo?

Assim como o samba, a capoeira, o candomblé, o funk carioca sofre da amálgama elitista brasileira em não observar que é vã sua tentativa de tornar-nos uma europa dos trópicos. O funk é o corpo como tábua primeira, a partir da leitura de Hermano pude entender as tais "rodas de sexo" da década de 90 e os "corredores", onde jovens se dispunham nos "lado A e lado B" dos bailes, se enfrentando fisicamente, como dois exércitos. Qual a forma de demonstração de poder que pretos e pretas na periferia mais tinham fixadas em seu cotidiano? Respondo: polícia e sexo!
A juventude de periferia via na agressão ( e ainda vê) física o instrumento de poder, assim como as jovens negras com seus "cabelos de pico", excluídas dos comerciais de shampoo e das novelas da globo, davam vazão ao único espaço onde elas eram detentoras de poder pelo critério de serem exclusivas, as únicas mulheres disponíveis: o baile funk!

A cultura de periferia é a cultura popular brasileira, com a nossa classe média gostando ou não, ficamos orgulhosos em ver a nossa sexualidade sendo exacerbada em nossos bikinis e  culturas. Como o corpo pode não ser a cultura popular brasileira professor???

O corpo é a cultura brasileira - os dribles de Garrincha, o rebolado de Carla Perez, assim como o humor nordestino, a poesia paulista, a transcedentalidade amazônica - somos mosaico - e nenhum radicado fora ou então alguém de um país de Putin's onde os padres ortodoxos abençoam fuzis em suas missas podem demonstrar qualquer estranhamento sem a nossa desconfiança.

Um dia seremos um país de leitores, porém, leitores dançarinos e sexuais.

Como costumo dizer, ninguém sexta feira a noite vai para uma boate ouvir chico buarque....cada um em sua móira...

"É som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado..."


Emmanuel 7 Linhas
Funqueiro, Rapeiro, Repentista, Sambista, Ator, Arteiro, Poeta e passista - Preto e Favelado: Zeitgest!!

LEIA O ARTIGO DO PROFESSOR GRIJÓ:
http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2013/01/noticias/cultura/1394775-cronica-do-dia-funk-cultura-livro.html

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Minha primeira vez...




Minha primeira vez...

Dizem que a primeira vez a gente nunca esquece.
Eu não me esqueci da minha.
Dizem que a primeira vez nunca é boa e você faz tudo errado.


Comigo não foi diferente.

O quarto estava morno. Minhas mãos, frias. Meu coração, quente. Minha cabeça, em parafuso.
Ela estava deitada na cama como se não se importasse com o que ocorria ao seu redor.A penumbra em que nos encontrávamos era incomodamente aconchegante. A luz do sol passava em feixes pelas frestas da janela formando pequenas linhas de vida que cortavam o recinto. Dois desses feixes alisavam aquele rosto pálido e aveludado que descansava em cima de um travesseiro. O lençol a cobria até a cintura, guardando delicadamente cada centímetro de suas pernas. Apenas seu rebelde pé esquerdo repousava de forma graciosa para fora das cobertas. Me aproximei pelo lado da cama de maneira tosca. Meus braços pareciam pesar 50 kg cada. Minhas pernas tinham vida própria. Eu não coordenava meus movimentos. Meu olhar era fixo, como o de um leão prestes a atacar sua presa.

Já ela demonstrava ter total controle da situação. Um olhar vago, meio despreocupado, de certa forma até pretencioso. Focava o horizonte, fingia não me perceber ali. Por um momento nossos olhares se cruzaram. Não foi preciso dizer uma palavra. Ela precisava de mim. Eu fui.

Como qualquer iniciante, queimei a largada. Avancei com voracidade. Subi na cama me apoiando em meus joelhos. Antes que ela pudesse reagir abracei sua roupa com as mãos. Como um lobo voraz abocanhei o meio de sua camisa com os dedos. Em um único puxão, abrupto e seco, libertei seu peito daquela prisão. Ela não usava sutiã. Os bicos de seus seios me encaravam perdidos. Mal sabiam eles que estávamos juntos.

Era chegada a hora. Por 5 dias eu a massageei. O relógio contou apenas 10 minutos, mas eu sei que se passaram dias. Meus braços não se suportavam. Meus ombros estavam castigados. Ela pareceu desistir de mim. Durante todo o tempo não reagiu às minhas investidas. Eu falhei.

E assim a vida se foi, como um assovio inocente em meio a ventania...

O monitor cardíaco, que repousava ao lado da cama, registrava ZERO batimentos por minuto. Uma linha vermelha e reta cortava a tela soltando um som contínuo que teima em não sair da minha cabeça. Ele me dizia o óbvio, escancarava-me o fim. A RCP - reanimação cardiorrespiratória - ou como dizem por aí, a massagem cardíaca, não surtira efeito. As enfermeiras, que me auxiliaram, cederam-me dois tapinhas nas costas. Não há nada mais humilhante do que os malditos tapinhas de consolo nas costas. Pareciam ser tiros de misericórdia adentrando meu peito. Rasgavam-me o tronco como um chicote de um senhor de escravos.

Minha vergonha era lancinante. Ela, por outro lado, parecia não se preocupar. Desde o início mantivera aquele mesmo olhar de desapego. As enfermeiras cobriram seu rosto com o lençol. Era o fim do espetáculo. As cortinas se fecharam, e não houve sequer um aplauso.

Saí do quarto. Tirei meu jaleco. Ele estava limpo, alvo, impecável, nem parecia ter me coberto durante o pior momento da minha vida. Alguns chamam médicos de Anjos. Hoje fiz uma entrega para a morte. Naquele quarto duas pessoas tinham perdido a inocência, a diferença era que uma ainda continuava com o coração a bater. Segui torto pelo corredor do Hospital. Era hora de ir embora. Era hora de fumar um cigarro.

José Vitor Rassi Garcia

http://www.camarabrasileira.com/euv12-021.htm
(Via José Vitor Garcia)